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Geral Poesia

Indícios Flutuantes: Marina Tsvetáieva

“Para meus versos, escritos num repente,

Quando eu nem sabia que era poeta,

Jorrando como pingos de nascente,

Como cintilas de um foguete,

Irrompendo como pequenos diabos,

No santuário, onde há sono e incenso,

Para meus versos de mocidade e morte,

- Versos que ler ninguém pensa! –

Jogados em sebos poeirentos

(Onde ninguém os pega ou pegará)

Para meus versos, como os vinhos raros,

Chegará o seu tempo.”



Maio de 1913
Traduçãp de Aurora Fornoni Bernadini

De uma vez, numa rede social, surgiam postagens discutindo o legado de Joseph Stálin. Coisa sem o menor interesse. Entretanto, solicitei que as pessoas defensoras de Stálin não me seguissem. Esqueci, porém, de dizer o motivo maior: é que eu sigo poetas e demais artistas que ele perseguiu e matou.

Não queria nem mesmo discutir ideologia, posicionamentos, contrapesos etc. Para mim, basta o que dizia Godard: matar um homem para defender uma ideia não é defender uma ideia – é matar um homem.

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Performatividade

Do tempo dos corpos e do espaço mental

Joseph Beuys (1921-1986) – Ação no Pântano

O tempo dos corpos nos escapa quase sempre. São raras as vezes em que nos permitimos ou sustentamos, um pouco mais, mais um pouco, viver o instante contínuo, infinitamente divisível, nas variações de si.

A imagem de Joseph Beuys, performando o que chamou de Ação no Pântano, me faz pensar essa travessia de uma duração. O instante fotográfico congela – retrata – um momento dessa poética. Momento que não vi, mas cuja imagem parada me remete a duas linhas: a do tempo daquele corpo naquela travessia e a do tempo de quem observa – ou fotografa.

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Iluminações avulsas Urbano

Porosidades de uma poética do urbano

O novo site do Poro – intervenções e ações efêmeras – está um primor. Não só devido à elegância do visual, mas também às funcionalidades – nele você encontra tudo sobre os traçados e repertórios da dupla de artistas que o formam. Além de referências que desdobram e conectam esse plano de porosidades poéticas que a dupla de artistas, Brígida Campbell e Marcelo Terça-Nada! desenvolve desde 2002.

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Ativismo e Análise Política Geral

56 anos do golpe militar de 1964

Imagem do Coronavírus

A entrevista coletiva do Ministro da Saúde, em meio ao avanço da pandemia do Corona Vírus no Brasil, no dia que antecede os 56 anos do golpe militar de 1964 foi sintomática. Cercado por ministros, coordenado agora por um militar, o ministro da saúde não teve liberdade para conduzir a reunião com a imprensa e as mídias.

Tudo montado com o objetivo de conter o ministro, que procura se ater às orientações técnicas e científicas, inclusive da Organização Mundial da Saúde, para desgosto do presidente que se pauta por um desgoverno e, mais do que isso, por necropolítica e pulsão de morte, exigindo a toda hora que o ministro se curve e abra mão do isolamento social, necessário segundo líderes e cientistas mundiais, para conter o vírus e evitar mais mortes.

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Iluminações avulsas Poesia

A sede das areias quentes

Os braços são esponjas.
O coração.
A veia torta.
A nau enfim descoberta,
Nos olhos se faz sinistra presença.
Que tempo e nó serão esses?
A porta estava aberta e o sofrimento entrou.
Injeção letal
Pendurando na parede seu vestido
Líquido vítreo.
Quem escreve a sentença?
Eu?
Você?
As sombras ou as sobras?
As cotidianas migalhas de sonhos esmagados?
Aves que migram,
Cascos e borrascas,
Anjos e tintas magras,
Escrevam um bilhete para quem amo.
Digam que o amor sobrevive a tudo.
A quase tudo.
Não demorem,
Por um segundo se perde o segundo.
Num voo ralando suas plumas num chão de corte,
Na mão da sorte,
A estrela,
No começo da estrada, 
Está partida
E me pede que a guie.
Visões são sentimentos pagando pensão ao destino.
Vá, escreva logo este bilhete!
Não deixe que demore.
Os ventos ligeiros levarão esta mensagem
Ruflando através da noite.
Mas podem as palavras alguma coisa?
Marília e Dirceu?
Miragens são grades que dão para um mar seco.
Como pode a palavra ser língua
Enquanto míngua o amor nas trincheiras
Do dia a dia?